Os vinhos mais refrescantes para este verão

Os vinhos mais refrescantes para este verão

Publicado por: Ricardo Cesar Publicado: 10/02/2025 15:02 Visitas: 705 Comentários: 0

Será que quando mudam as circunstâncias, os critérios empregados para determinar o que é bom e o que não é tão bom deveriam mudar também?

No mundo dos vinhos, a resposta é não.

Todos os críticos e publicações especializadas cravam uma avaliação estanque, um valor absoluto que em tese deve se manter em qualquer ocasião – embora usualmente também apontem com que comida aquela bebida harmoniza ou quais as melhores condições para aproveitar suas características. Faz sentido que seja assim, claro.

Mas é verão.

Nesta época do ano o que nove em dez pessoas mais desejam em suas taças é pura e simplesmente... refrescância.

 

Esse atributo, tantas vezes bem-vindo, ganha um peso extra. Na beira da piscina, nas tardes quentes dos fins de semana ensolarados ou nas noites abafadas em que buscamos uma furtiva brisa na varanda acontece esse pequeno feitiço: a capacidade de um vinho refrescar pode nos dar mais prazer do que um caleidoscópio de complexidades adornando um vinhão alcóolico, amadeirado, untuoso e pesado.

Errado não está. Não é que eu recusaria um Chateau Margaux servido nas areias de Ipanema com um sol de 40 graus na cabeça se fosse obrigado a pegar ou largar uma taça ali na hora. Mas eu toparia quase por princípios e, vá lá, pelo prazer intelectual. Porque – heresia das heresias! - algo infinitamente mais simples, como um mero sauvignon blanc geladinho, proporcionaria uma onda de refrescância que naquele momento seria o que meu corpo realmente estaria implorando. Mesmo que a cabeça e o intelecto se revoltassem contra o que o corpo pede.

Algumas características conferem refrescância ou frescor a uma bebida – e aqui não estamos falando apenas de vinhos. A principal delas é a acidez elevada, daquelas que fazem a boca salivar. Pense numa caipirinha de limão, por exemplo.

Também ajuda se o líquido tiver um corpo mais leve ao invés de ser excessivamente encorpado e extraído. Num calor escaldante uma cerveja pilsen simples, mas bem gelada, pode descer melhor do que uma belga complexa ou uma IPA super concentrada, não é verdade? Teor alcóolico mais baixo também contribui, já que o álcool esquenta. Aromas e sabores que sugerem cítricos ou frutas muito frescas e aspectos que remetem à mineralidade completam o pacote da refrescância.

Em termos – como classificar? Termos históricos? Culturais? – o brasileiro aprendeu desde sempre a valorizar o atributo da refrescância não pelas avaliações de vinhos, mas pelos comerciais de cerveja. Aquelas “estupidamente geladas” que trazem uma lufada de ar congelante direto do Polo Sul, pinguins e tudo o mais para a sua praia num passe de mágica.

No vinho, a boa prática manda não se reduzir tanto assim a temperatura, porque a percepção de aromas e sabores decai. O líquido se fecha, a boca fica anestesiada e percebe-se pouco dos atributos da bebida quando estamos tomando algo a zero grau. O que pode ser até bom para uma cerveja pilsen num dia quente, mas talvez seja um desperdício para um vinho que tenha uma certa riqueza gustativa (e que custou bem mais que a cerveja). Em todo o caso, rótulos brancos e rosés de corpo leve, que não fermentaram nem amadureceram em madeira, e de complexidade baixa ou moderada podem ser tomados ali ao redor de 5 ou 6 graus – ou até menos se isso te fizer feliz. Já os mais complexos devem estar a pelo menos o dobro disso. Não há problema a garrafa ficar num balde de gelo, porque num ambiente em que faz calor o líquido rapidamente esquentará na sua taça.

Tudo considerado, por que não brincar de criar rankings guiados pelo critério de refrescância?

Se a modéstia nos permite, este Guia tem o mérito de organizar os vinhos por faixas de preço – até R$ 100, entre R$ 101 a R$ 200 e de R$ 201 até R$ 300 – e, claro, também por tipo – tintos, brancos, roses, espumantes e fortificados. Com isso, o leitor pode orientar sua busca por um critério que quase todo mundo usa na hora do vamos ver: o valor que cabe no seu bolso ou que ele está disposto a gastar para determinada ocasião.

Dentro de cada categoria, criamos os rankings dos “Dez mais”, que são os grandes achados que se destacaram dentro de um determinado tipo e faixa de preço. Então tomei aqui a liberdade de fazer aqui um ranking bem pessoal – não um trabalho coletivo entre os quatro autores do Guia, como tudo o mais nesta publicação, mas apenas um exercício livre para gerar um serviço de dicas para o leitor sem nenhuma pretensão de ser uma lista definitiva ou inquestionável.

São os meus Dez Mais pelo critério não de preço, mas sim de refrescância. Temos aqui produtos das duas edições do Guia dos Vinhos (2023/2024 e 2024/2025). Há uma natural dominância de brancos e espumantes, mas também alguns tintos de verão.

Vamos a eles:

 

1. Garrocha, Mar do Inferno 2021
Mineralidade é a chave para compreender este arinto. Pedra molhada que suporta frutas brancas maduras, lima, grama. A mesma fruta branca, agora em boca, é ácida e exótica, com uma sensação mineral intensa ampliada pelo toque salino e acidez afiada.

 

2. Calabria Family Wines Richland Pinot Grigio 2021
A acidez deste pinot grigio australiano corta como navalha afiada, provocando uma salivação prazerosa. O paladar cítrico, com um limão experssivo, é acompanhado de um leve esfumaçada no final.

 

3. Soalheiro Allo Alvarinho Loureiro 2022
Como o nome entrega, trata-se de um vinho das castas alvarinho e loureiro, mas com a ordem invertida de participação no blend. 70% da segunda uva (loureiro) e 30% da primeira (alvarinho). Para aqueles que apreciam fermentados de alta acidez da região. Vai direto ao ponto com aromas limpos de cítricos, folha e grama.

 

4. Chandon Blanc de Noir
Elaborado apenas com a pinot noir e com borbulhas bem finas, traz notas de pera, maçã verde e cítricos, bem mescladas com as notas de panificação, como brioche, croissant de amêndoa. Tem boa intensidade e ótimo frescor. Limpo e vivaz.

 

5. Miolo Cuvée Nature
Com 18 meses de autólise, traz borbulhas intensas e finas. Nariz com flores brancas e pera, sem muitas notas de fermento. Tem frescor intenso e vivaz, que chama por mais uma taça, no estilo que traz fama aos espumantes brasileiros.

 

6. Miguel Torres Cordillera Sauvignon Blanc 2022
Um sauvignon blanc de muita personalidade, elaborado no sul do Chile. Traz notas de pimenta-jalapenho, limão, grama. No paladar, mantém as notas cítricas com um toque salino e outro ácido. Limpo, direto, persistente e fresco.

 

7. Domaine Antoine Lienhardt Gamayoptère 2020
Visual rubi claro com leve turbidez, sem afetar a integridade do vinho. A vinificação semi-carbônica permite boa expressnao da fruta, vermelha e ácida (morango e framboesa), com toque terroso e de pnao tosatdo. Na boca a acidez está no primeiro plano, com frutas frescas e tanino com toque verde no final (vinificação com cachos inteiros).

 

8. Manus Clássico Pinot Noir 2023
A pinot noir é uma uva caprichosa. Às vezes, traiçoeira. Aqui, uma grata surpresa. Parece que se adaptou bem à região da Encruzilhada do Sul. A fruta vermelha fresca, como pitanga, aliada a uma boa acidez, taninos firmes mas sem pesar na potência, resultam em um vinho elétrico, vivo e fresco que, na boca, lembra alguns rótulos italianos.

 

9.Penedo Borges Blanc de Malbec 2023
Aqui, a uva tinta malbec é vinificada em branco, isto é, sem contato com as cascas. O visual bem clarinho convida para um discreto grapefruit, pera, casca de limão cristalizada. Corpo leve, mas com um trisco de calor e outro de giz. No final de boca, uma textura com sensação de secura aponta certa austeridade.

 


10. Amitié Brut Rosé
Este espumante rosé tem cor clarinha, e predomina os aromas de fermento de pão, caju e lima – uma bela combinação na taça. Tem perlage intenso e um paladar fresco e limpo, com grapefruit e cítrico amargo. Interessante e de boa complexidade em sua faixa de preço.

* Preços indicados pelos produtores e importadores em julho de 2023 (Guia 2023) e julho 2024 (Guia 2024)

Tags: Guia dos Vinhos, Ricardo Cesar, Vinhos refrescantes

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